Sistemas lógicos nos entediam. Rejeitamos moralismos. Bocejamos com pieguices. Suspeitamos das ideologias. Tememos demagogias. Rechaçamos totalitarismos. Fugimos das intolerâncias.
Chamamos o pão que nos alimenta de dignidade. A água só nos hidrata quando borbulha com afeto. Não queremos tratados, basta-nos um ombro. Pagamos exorbitâncias para que alguém nos ouça com um rosto amoroso.
Corremos qualquer distância para assistir ao poeta em êxtase. Amamos palcos, telas, picadeiros. Enriquecemos o artista. Rebelados contra os grilhões da imanência, ambicionamos por transcendência. Magia, fantasia, ficção, tudo nos encanta. Dêem-nos parábolas e compreenderemos o Reino Eterno. Fábulas nos municiam de critérios éticos para a próxima escolha. Tramas e enredos de novelas, romances e contos, ensinam o amor, a vingança, o ciúme, a bondade.
Para nos manter, dependemos de abraços, sussurros, pele, suor, olhares. Não esperamos explicações sobre o Divino, preferimos degustá-lo. Entre a possibilidade de entender o Grande Mistério e ser mergulhados em sua presença, mil vezes optamos por um batismo de amor. Concebidos na paixão, aspiramos sentimentos. Alimentados por seios, crescemos atraídos pelo belo.
Cores nos inebriam, brilhos nos entusiasmam, trevas nos adormecem. Equações matemáticas explicam a métrica da melodia. Compassos organizam anarquias. Canções nos embevecem. Organizamos orquestras para perpetuar o magnífico. Executamos o jazz para enaltecer o improviso. Criamos, imitamos o Criador.
Não só existimos, vivemos!
Soli Deo Gloria
Ricardo Gondim
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