segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Eu sou sim e sou não; assim e não eu sou não sou
Caio Fábio
Coisa muita estranha é esta de ser um homem divinamente caído e caidamente divino!
Sim, de carregar o finito e o infinito;
de ser mortal e eterno;
de ser animal mamífero e um deus filho de Deus;
de ser livre para escolher e condicionado a tantas determinações que turvam a escolha;
de ter arbítrio e também de reagir à revelia do arbítrio;
de ser santo na mesma natureza pecadora e caída;
de estar preso ao tempo/espaço e já poder transcendê-lo até pelo pensar, pelo imaginar e pelo crer;
de contar dias sabendo da eternidade;
de ter apegos mortais enquanto se celebra o eterno;
de sentir separações que sabemos não separam;
de temer amar quando a vida que é [...], é apenas amor;
de adiar a morte quando é justamente ela que nos livra dela própria;
de temer a libertação daquilo que de fato liberta;
de amedrontar-se do que não pode matar;
de esperar frustrado o que já se sabe que é;
de relutar em ter fé Naquele que teve fé em nós por nos ter feito de nada além do Seu próprio desejo;
de andar nas calçadas de poeira esquecido do Caminho;
de buscar fora [...] a Verdade que existe apenas dentro;
de almejar a Vida como se ela não nos habitasse;
de invocar Deus acima e não no interior;
de separar os semelhantes sem enxergar a obviedade da nossa mesma semelhança;
de nos impressionarmos ainda com tudo o que não passa de miragem;
de atribuirmos direito duradouro ao que se desvanece;
de sairmos para lutas que estão já acabadas;
de nos abalarmos com aquilo que já carrega o signo da falência;
de confessarmos com gritos o que na vida não cremos;
de pregarmos em alaridos e não desejarmos viver nem mesmo em silêncio;
de pensarmos e não concluirmos que quase nada cabe no pensamento;
de habitarmos o finito do tempo/espaço e não nos darmos conta de que até em seus limites nada vemos;
de aceitarmos estatísticas e tergiversarmos ante a sabedoria;
de nos culparmos do que não provocamos;
de não culparmo-nos pelo que fizemos;
de justificarmo-nos do que não requer nada além de consciência e mudança;
de aceitarmos que um conjunto de arrazoados tenha o suposto poder de salvar a uns e condenar a outros;
de confessarmos a inalcançabilidade de Deus e Lhe defendermos os templos;
de carregarmos em nós o pode do louvor e imaginarmos que ele não acontece se não cantarmos;
etc… — enfim, de sabendo tudo isto acerca de nós mesmos, vivermos como se nada disso fosse o que de fato é!
Assim, não me é possível deixar de pensar que a maior tragédia humana é o medo de crer, de ver, de saber, de aceitar os limites e de acolher os não limites; de ser tão maravilhosamente divino em sua origem, e tão desgraçadamente mamífero e animal em suas escolhas; de ser sobejamente elevado e, ao mesmo tempo, tão aferrado ao que é mesquinho; de ser tão para além das estrelas enquanto briga com tanta avidez pelos espaços feitos de pó!
Ah! Que desgraçadamente linda e patética é a existência humana!
E que grande amor é esse que assim me ama?
Por isto, também digo:
Deus é amor porque sei que eu assim sou [...], tão aquém de todo amor!
Sou [...], logo sou; e não sou a origem do ser que sou; sou sem poder ser; sou porque sou aceito em meu ser; por isto sendo quem e como sou, sei que Quem me fez só pode ser Absoluto Amor!
E que grande loucura é esta, a de Deus, que decidiu nos chamar Seus filhos?
Ora, sendo nós assim, tão sem nada definidamente assim, como seríamos objeto de qualquer coisa que não absolutamente e apenas o Sim da Graça?
Nele, que é Sim Assim Somente Sempre Amor,