sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Quem são os vencedores felizes de hoje?

por Tais Machado



Daniel Cohen é um economista, também professor da École Normale Supérieure, vice-presidente da École d’Économie de Paris e editorialista do jornal Le Monde. Mas, o que mais me impressiona é sua capacidade de falar sobre temas não tão simples, mas com uma linguagem apetitosa. Você o lê e compreende conceitos não tão básicos com certa facilidade e até fica com a sensação de que entende de economia.

Recentemente foi publicado no Brasil mais um de seus bons livros, e esse, mais atualizado (escreveu no ano passado) – "A Prosperidade do Vício". São artigos que nos convidam a uma reflexão mais profunda de nosso tempo.

Num dos capítulos ele questiona: “se a riqueza é um elemento importante do bem-estar, por que uma sociedade que enriquece parece fracassar em tornar seus membros mais felizes?”. E pondera: “Os franceses eram incomparavelmente mais ricos em 1975 do que em 1945, mas não eram mais felizes. Por que tanto desgosto? A resposta é simples. O bem-estar dos modernos não é proporcionado pelo nível de riqueza. Depende do seu crescimento, qualquer que seja o ponto de partida desta”. E salienta “um traço fundamental da sociedade moderna: seu apego ao crescimento”.

Interessante pensar a esse respeito no contexto brasileiro, com uma economia estável nos últimos anos e com perspectivas de crescimento maior. Os cidadãos estão mais vorazes? Apesar da tentativa do Governo de conter a euforia consumista de fim de ano, com aumento de juros, a fim de que a inflação não aumente de forma avassaladora, ainda assim percebemos as pessoas animadas em consumir mais.

Voltando aos comentários do Cohen, “o consumo é como uma droga. O consumo cria uma dependência. O prazer que proporciona é efêmero, mas o desespero é imenso quando nos vemos privados dele”. Entretanto, considera pesquisas recentes que apontam que “90% dos mais ricos respondem que são ou muitos felizes ou o suficiente, enquanto apenas 65% dos mais pobres respondem que o são. Aqueles que têm uma vida financeira mais folgada são sempre majoritariamente muito felizes”.

Como se explica isso? Nas palavras de Cohen trata-se de “um fenômeno simples e eterno: a inveja. Sentimos prazer em conquistar mais do que os outros. Marx já tinha feito essa observação: ‘Uma casa pode ser grande ou pequena, mas enquanto os vizinhos tiverem casas do mesmo tamanho isso não será um problema. Se alguém constrói um palácio do lado, essa casa se tornará minúscula’. Cada um tentará ultrapassar seus colegas ou amigos, aqueles que formam o ‘grupo de referência’ com o qual nos comparamos”.

Constata-se, assim, que mais do que acumular riquezas o que importa hoje é sentir-se superior ao próximo. Sente-se um vencedor quando se percebe na frente do outro, o esforço é ter e estar em vantagem em relação aos que o rodeiam. Parece que tudo o que importa é a competição nessa selva capitalista.

Pensar sobre o registro que Lucas faz no evangelho da história de Zaqueu me parece oportuno. Afinal, Zaqueu é um homem rico, em grande vantagem financeira em relação ao seu grupo de referência – seus irmãos judeus. Como chefe dos cobradores de impostos, não era bem quisto pelo seu próprio povo, contudo, preferiu ou agradou-se mais da opção de obter larga vantagem financeira, ainda que extorquindo seu próximo. Talvez a sensação de ser um “vencedor” por suas conquistas até ali lhe bastavam. Podia ser pequeno em estatura, mas era grande no poder que as riquezas lhe davam.

A curiosidade para saber quem era Jesus, para ver aquele que atraia multidões o fez subir numa árvore. E ali foi encontrado por Jesus. Depois desse encontro se tornou um novo homem, mudando radicalmente sua postura.

É interessante porque não temos detalhes da conversa que Jesus teve com ele enquanto ficou em sua casa. Mas vemos o efeito em sua vida. Espontaneamente ele diz: “Olha, Senhor! Estou dando a metade dos meus bens aos pobres; e se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais” (Lc 19.8). E como Jesus reage diante de tal atitude? “Jesus lhe disse: ‘Hoje houve salvação nesta casa! Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido’.” (Lc 19.9-10).

Ao que parece, segundo Jesus, a salvação se manifesta na vida das pessoas quando o arrependimento acontece, quando a consciência é ampliada, quando seus olhos interpretam a realidade de uma nova maneira, quando seu coração vê o que antes não via, quando o próximo não é mais seu competidor, mas alguém com quem você se torna solidário, te levando a doar, a devolver, a ajudar. Como diz Philip Yancey “Jesus me convida a abandonar o esforço competitivo. Convida-me a confiar na opinião de Deus a meu respeito, a única que vale afinal de contas”.

Jesus diz que sua vinda foi para buscar e salvar o perdido. Ele diz isso justamente para Zaqueu, cuja atitude prática evidenciava a descoberta de ter sido achado e salvo. Sim, precisamos ser salvos de nós mesmos.


Taís Machado é psicóloga e docente em diversos seminários teológicos.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A fotossíntese da fé e o estranho evangelho hidropônico gospel

Todos nós que um dia passamos pelas séries iniciais da escola temos o ciclo da fotossíntese gravado como tatuagem em nossas lembranças de infância. Pois, mesmo assim, permita-me recordá-lo: fotossíntese é isto.

Resumindo [já que você não acessou o link da Wikipédia mesmo]: Seria a fotossíntese algo além de uma planta usar da luz solar e da água para transformar um gás poluente e perigoso como o gás carbônico em oxigênio essencial para a vida alheia e ainda alimentar a planta com sais minerais presentes no chão, na terra, no húmus? [Sim, o processo está muito simplificado, mas farei uma simples analogia, não um tratado ponto-a-ponto da coisa. Sigamos]

Ora, o que é a caminhada na vida cristã além de uma metáfora metafísica desse surpreendente processo vegetal?

Vejo na jornada da fé cristã [aquela uma proposta pelo Jesus Nazareno] um processo semelhante. Se não é a fé cristã usar de dúvidas, questionamentos, incertezas, terríveis vagos nas páginas do nosso manual da vida para, junto com a luz vinda do Filho do Homem, junto com a água que mata toda a sede, se não é a fé cristã usar tais dúvidas para gerar vida, e vida em abundância, o que mais seria?

Nisso, vejo um grave problema com a atual cultura, ou agricultura, evangélica. Se Jesus foi ao mundo, pisou em terra viva, tomou as dores nossas para si; ou seja, se Jesus nos faz a fotossíntese necessária para vivermos, como rejeitar esse processo? Ou pior, como propor um simulacro substitutivo?

Voltemos às analogias. Já ouviu falar em agricultura hidropônica, ou hidroponia? É um simulacro científico da agricultura em terra, é um experimento científico, controlado e metódico que pretende gerar vida em ambiente esterilizado, livre de germes, bactérias e outros micro-organismos da mesma monta. Pior, é agricultura sem chão, sem terra, sem minhocas e cheiro de mato. É uma coisa estéril, fria, repetitiva, com alfaces de folhas iguais, com tomates todos redondinhos, meigos e de coloração, com moranguinhos docinhos e limpinhos.

Já comeu um tomate hidropônico? Vá à papelaria mais próxima e morda uma farta placa de isopor. O gosto será o mesmo, acredite. A tal agricultura hidropônica cria vegetais de granja, numa metáfora fácil. É um simulacro, é uma reprodução fajuta de algo vivo, bom e agradável.

O que nos leva ao final da metáfora: estão fazendo o mesmo com a fé cristã nas igrejas evangélicas brasileiras. Em vez de uma fotossíntese completa, propõem um evangelho igualmente estéril, sem chão, sem terra, sem húmus; um evangelho limpinho e bonitinho, boas novas de reality show, com um monte de regras e um ser que tudo vê destemperado e louco para, ao menor deslize, nos eliminar da casa e nos mandar ao inferno dos desviados e rebeldes.

Os evangélicos morrem de medo de se contaminar de mundo, de chão, de terra. Querem ser sal diet, que não aumenta a pressão, mas também não salga, não conserva, não afasta a podridão; querem ser luz halogênica, que não de desgasta, não consome energia, mas, em compensação, não arde, não queima, não aquece, não incomoda.

Vivem os evangélicos hoje de máscaras [com todos os trocadilhos possíveis], vivem de luvas cirúrgicas e germicidas, álcool gel e antibióticos enquanto, de agricultores da vida, se tornam cientistas do cultivo suspenso, da cultura esterilizada, da agricultura hidropônica.

Ah, mas é o fim dos vermes, das larvas, das doenças e pragas na lavoura. É o fim do joio misturado ao trigo. Não, não é. Ou melhor, é. Mas, tirando as intempéries, os percalços, os ataques, tiram a força, a resistência, o crescimento vigoroso. Hoje, as igrejas evangélicas geram tomates bobões, babões e bundões. Geram abobrinhas, alfaces sem gosto, frutos sem sabor. Geram um simulacro e, pior, geram em pouca monta simulacros a custa de tempo, esforços e recursos suficientes para grandes lavouras naturais, para verdadeiros alimentos serem produzidos, vivos, sadios e saborosos.

Por fim, sinto pena de ver tanta gente cultivando feijões em algodão e crendo que são ceifeiros, mais pena sinto dos frágeis brotos estéreis, sem vida, sem chão, sem história, sem caminhada. São frutos em estufas, em bolhas de contenção, em redomas de vidro sem contato com nada e sem chance de crescer e se multiplicar. Esqueceram-se das palavras do Rabi: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo (Mateus 13.24).

[texto dedicado a Ricardo Gondim, cujos livros e textos com cheiro de terra e chuva me encheram de dúvidas, tiraram todas as minhas certezas e me levaram a uma fé cristã cristalina]

Tom Fernandes, no blog Pequenos dramas de um escritor diletante

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Uma opinião contrária à minha não é um teste de fé

Publicado por Jarbas Aragão em 19 de maio de 2011.

Texto de Mark Galli, editor da revista Christianity Today

Tive uma série de conversas ultimamente nas quais acabávamos falando sobre o livro Love Wins, de Rob Bell. Todas as vezes, uma estranha dinâmica parecia se repetir. Se a pessoa havia lido minha resenha sobre a obra ou sabia das minhas críticas, hesitava em elogiar o livro. O primeiro passo nesse ponto é dizer: “Não concordo com tudo no livro, mas…” – e o que segue é entusiasmo quase total. Normalmente, nutrem simpatia maior por uma ou outra parte da obra. É como se alguém se sentisse culpado por ter gostado da leitura. Talvez as pessoas que realmente gostam do livro sequer se preocuparam em falar comigo, mas suspeito que haja algo mais acontecendo.

Quem sabe seja algo que uma amiga jornalista e cristã me disse: é preciso ter cuidado toda vez que seescreve sobre Rob Bell, para que não o acusem de realmente gostar, ou de não gostar dele. Quando algumas pessoas falam sobre as ideias de Bell, parece que é preciso se desculpar por ler o livro ou concordar. Muitos parecem preocupados que, se gostarem do livro, sua teologia será questionada.

Resumindo: parece que Rob Bell está se tornando a “prova dos nove” da fé atual. Se você gosta dele, sua ortodoxia pode ser questionada. Se você quiser provar suas credenciais ortodoxas, basta simplesmente condenar o livro.

Esse fenômeno é real, mas é uma bobagem. Isso não significa que não seja uma corrente poderosa. E por mais que seja verdade, é uma corrente contra a qual devemos nadar contra.

Em primeiro lugar, Rob Bell ama Jesus. Ele quer ver muita gente crendo no Senhor. Ele deseja ver o mundo transformado em nome de Jesus. Ele realmente pensa que a Bíblia é o livro através do qual Jesus fala com autoridade. Ele acredita em milagres. Ele acredita que Jesus voltará. Poderia continuar a lista… Rob Bell compartilha de muitas das crenças tão estimadas pelos evangélicos. Em suma, ele é um irmão em Cristo.

Naturalmente, só porque alguém é irmão não significa que devemos aceitar tudo o que ele diz. Irmãos discordam, algumas vezes sobre coisas importantes. De vez em quando as maiores discórdias acontecem dentro das famílias. Entretanto, continuam sendo uma família – a não ser que uma parte decida repudiar o resto da família.

Segundo, fazer de Bell uma “prova dos nove” é hipocrisia. Há alguns livros entre os best-sellers cristãos que ensinam algo estranho, mas não entramos em pânico como muitos fizeram em relação a Love Wins. Provavelmente, o material mais controverso recentemente foi A Cabana. Sem dúvida, existem algumas ideias teologicamente problemáticas naquele livro, mas na maioria das vezes os evangélicos têm “perdoado” Paul Young e sua teologia em favor da temática mais ampla do livro: a redenção em Cristo. Reconhecemos que um autor tentando contar uma velha história de novas maneiras algumas vezes ultrapassará os limites da teologia tradicional. Mas a maioria de nós não julga a ortodoxia alheia baseado apenas em sua reação ao livro A Cabana. Sabemos que as pessoas leem e reagem a livros como esse de diferentes maneiras, e não parecemos nos importar muito com isso.

Em terceiro lugar, acredito que não temos alternativa a não ser ouvir e responder cordialmente às ideias que já foram resolvidas no passado, ideias que nos fazem sentir desconfortáveis, ideias que parecem ameaçar nossa fé. Entramos em uma nova era na história da Igreja, a “era da internet”, na qual todo tipo de crença pode ser conhecida com apenas um clique. Somos virtualmente vizinhos de católicos, hindus, muçulmanos, ateus, arianos, pelagianos, universalistas e assim por diante. E seus sites frequentemente apresentam aspectos que, em uma escala maior ou menor, diferem da nossa visão do Cristianismo – e eles expressam esses aspectos de forma razoável e convincente. Não podemos mais sair chamando as pessoas de “universalista” ou “ariano” e pensar que isso é suficiente.

Vivemos em uma época em que devemos nos envolver novamente com todas essas brigas sobre ortodoxia, heterodoxia, heresia, paganismo e apostasia? Aprecio a oportunidade de interagir com pessoas de tradições diferentes e quero ouvir o que elas têm a dizer. Se nossa fé cristã não pode resistir aos argumentos, devemos rever isso assim que pudermos. Mas, bem, não há realmente nada novo debaixo do sol. O que temos agora é uma oportunidade divinamente ordenada para esclarecer o que acreditamos em meio a um mundo extremamente pluralista. Afinal, o mundo da igreja primitiva era tão pluralista quando o nosso, e a igreja administrou isso muito bem, obrigado.

Isso significa que teremos de nos acostumar com alguns cristãos de carteirinha experimentando ideias que pessoas como eu consideram pouco úteis. Mas se um escritor tenta fundamentar seus argumentos nas Escrituras, e se identifica como membro do corpo de Cristo, a misericórdia requer que eu primeiramente o ouça com humildade. Quem sabe o que Deus quer nos dizer neste momento? Não devo apenas ouvir o argumento, mas também perceber o problema que ele está tentando resolver. Pouquíssimas pessoas apresentam um novo modo de ver uma doutrina, a menos que estejam tentando resolver um problema real na igreja.

Em Love Wins, Bell discute alguns temas bíblicos (Julgamento Final, Expiação etc.) porque acredita que o modo que tradicionalmente falamos sobre esses temas não é fiel à Bíblia e afasta as pessoas de Jesus. Acredito que ele está parcialmente certo e que na maioria das vezes o modo como falamos sobre expiação vicária e inferno não é 100% bíblico. Portanto, essas doutrinas causaram mais problemas do que resolveram. No entanto, acredito que a solução que ele defende prejudicará o desejo de ganhar pessoas para Jesus. Além disso, o problema principal com Love Wins é que as Boas Novas são ainda melhores – mais profundas, ricas, complexas – do que o livro deixa transparecer. O fato de Bell apresentar uma perspectiva decididamente menor não faz dele um herege, embora possa ser antibíblico em alguns pontos. O ônus da prova recai sobre seus ombros. E o fato de que muitos concordam com as preocupações de Bell sobre esses temas mostra que precisamos discuti-los novamente.

Porém, não é uma boa ideia debater de forma infinita. Deus me livre! Fiz parte de duas importantes denominações protestantes ao longo de minha vida. Elas parecem pensar que o diálogo é um fim em si mesmo. Em muitos assuntos cruciais, mesmo depois de 30 anos de debates, eles relutam em permitir que o sim seja um sim, e que o não, um não. Certamente, para algumas pessoas, e ainda mais para igrejas e denominações, chega um momento de esclarecer e confirmar o que acreditam, por exemplo, sobre a expiação e o inferno. Mas se um livro é publicado e os comentários a seu respeito demonstram que milhares de crentes estão se debatendo com essas questões, o melhor é dar um passo para trás, ouvir atentamente as dúvidas e as preocupações, e exercer o amor.

Deveríamos cultivar uma atmosfera nas igrejas, famílias e sites na qual toda pergunta possa ser feita sem medo de julgamento, em que dúvidas teológicas são respondidas e não apenas rejeitadas. Algumas vezes agimos como se Jesus tivesse dito: “Eu poderia ser o Caminho, a Verdade e a Vida – a não ser que uma ideia melhor apareça”. Não. Podemos ter confiança plena em face de qualquer pergunta, porque sabemos que tudo que é verdade tem sua origem na verdade de Deus: em Cristo. Além disso, Jesus realmente é a verdade que nos liberta. Em muitos casos, isso exigirá disposição em ouvir e trabalho intelectual intenso. Mas quem disse que amar não implica em sofrimento?

Devemos nos tornar protestantes radicais de novo. Acreditamos que Deus é soberano e que o Espírito Santo nos guia em toda a verdade. Por meio de discussões e debates permitimos que a verdade de Deus em Cristo se aprofunde e se alargue. Se Jesus é realmente Senhor de sua igreja, sua verdade vai entrar na vida dela, de um jeito ou de outro. Nosso trabalho é ler as Escrituras, falar uns com os outros pelos laços do amor e, quando chegar a hora, tratar dos assuntos difíceis. Sei que uma congregação ou denominação tem todo o direito de dizer: “Esta conversa está terminada por ora. É nisso que acreditamos. Vamos avançar na missão fundamentados neste artigo de fé”. Existem momentos de dar nome aos bois, e dizer claramente que alguém tem uma falsa doutrina e está danificando a saúde da Igreja. Tudo isso faz parte do processo de seleção do Espírito Santo através da história. Mas não deveríamos terminar algumas conversas antes que elas tenham de fato começado, especialmente quando muitas vezes parece que o Espírito pode estar gerando de novo essa conversa preocupante.

Gostei muito do papo que tive com pessoas que leram Love Wins e também a minha resenha sobre o livro. Estou ansioso em ter mais conversas desse tipo. Elas reforçaram algumas das minhas ideias preconcebidas e me forçaram a repensar outras. Quando podemos conversar com irmãos em Cristo com liberdade e sem medo, com amor e sem julgar o outro, acredito que podemos amar a Deus mais profundamente. Existem maneiras talvez mais urgentes de amar o próximo neste mundo ferido, mas gerar divisão por causa de uma opinião diferente da minha definitivamente não é algo bom.

Tradução: Agência Pavanews

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Traduções contemporâneas dos dez mandamentos

I Não terás outros deuses
Não crerás na existência de outros deuses, senão de Deus.
Não explicarás o universo senão em relação a Deus.
Não terás outro critério de verdade senão Deus.
Não te relacionarás com pseudodivindades, senão com Deus.
Não dependerás de falsos deuses, senão de Deus.
Não terás satisfação em nada que exclua Deus.

II Não farás imagens
Não tratarás como Deus o que não é Deus.
Não compararás Deus com qualquer de suas criaturas.
Não atribuirás poder divino a qualquer das criaturas de Deus.
Não colocarás nenhuma criatura entre ti e o teu Deus.
Não diminuirás Deus para que possas compreendê-lo ou dominá-lo.
Não adorarás qualquer criatura que pretenda representar Deus.

III Não tomarás o nome do teu Deus em vão
Não dissociarás o nome da pessoa de Deus.
Não colocarás palavras na boca de Deus.
Não te esconderás atrás do nome de Deus.
Não usarás o nome de Deus para te justificares.
Não te relacionarás com uma idéia a respeito de Deus, senão com o próprio Deus.
Não semearás dúvidas respeito do caráter e da identidade de Deus.

IV Lembra-te do sábado
Não deixarás de dedicar tempo exclusivamente para Deus.
Não deixarás de prestar atenção em Deus.
Não deixarás de descansar em Deus.
Não derivarás teu valor da tua produtividade.
Não tratarás a vida como tua conquista.
Não deixarás de reconhecer que em tudo dependes de Deus.

V Honra teu pai e tua mãe
Não negarás tua origem.
Não terás vergonha do teu passado.
Não deixarás de fazer as pazes com tua história.
Não destruirás a família.
Não banalizarás a autoridade dos pais em relação aos filhos.
Não deixarás teu pai e tua mãe sem o melhor dos teus cuidados.

VI Não matarás
Não tirarás a vida de alguém.
Não tirarás ninguém da vida.
Não negarás o perdão
Não farás justiça com tuas mãos movidas pelo ódio.
Não negarás ao outro a oportunidade de existir na tua vida.
Não construirás uma sociedade que mata.

VII Não adulterarás
Não farás sexo;
Não farás sexo na imaginação;
Não farás sexo virtual;
Exceto com teu cônjuge.
Não te deixarás dominar pelos teus instintos físicos.
Não terás um coração leviano e infiel.
Não te satisfarás apenas no sexo, mas te realizarás acima de tudo no amor.

VIII Não furtarás
Não vincularás tua satisfação às tuas posses.
Não te deixarás dominar pelo desejo do que não possuis.
Não usurparás a propriedade e o direito alheios.
Não deixarás de praticar a gratidão.
Não construirás uma imagem às custas do que não podes ter.
Não pensarás só em ti mesmo.

IX Não dirás falso testemunho
Não dirás mentiras.
Não dirás meias verdades.
Não acrescentarás nada à verdade.
Não retirarás nada da verdade.
Não destruirás teu próximo com tuas palavras.
Não dirás ter visto o que não vistes.

X Não cobiçarás
Não viverás em função do que não tens.
Não desprezarás o que tens.
Não te colocarás na condição de injustiçado.
Não desdenharás os méritos alheios.
Não duvidarás da equanimidade das dádivas de Deus.
Não viverás para fazer teu o que é do teu próximo, mas do teu próximo o que é teu.

Via Blog do Ed René Kivitz

terça-feira, 26 de abril de 2011

O reino invisível



"Tendo os fariseus perguntado a Jesus quando viria o reino de Deus, ele respondeu: O reino de Deus não vem de modo visível." - Lucas 17:20

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Minha vida sem Deus

Outro dia me surpreendi me perguntando como seria minha vida se eu não acreditasse em Deus. Em termos positivos, quis saber a respeito da função de Deus em minha vida (já sei, você vai dizer que reduzi deus a uma coisa e estabeleci com ele uma relação mecânica e funcional, mas deixa pra lá, você vai ver que não é isso, só estou usando a melhor palavra que achei). O primeiro impulso foi na direção da questão ética: Deus é minha matriz de certo e errado, bem e mal. Há muita coisa que faço e deixo de fazer na vida por acreditar que Deus é um padrão a ser seguido ou obedecido, não necessariamente por causa de Deus em si, mas a bem de quem o obedece ou segue: algo como seguir as orientações de um manual de instruções – você pode fazer do seu jeito, mas a coisa não vai funcionar, e o resultado não é que o manual vai ficar triste ou bravo com você, mas que a coisa não vai funcionar mesmo.

Logo depois desta conclusão rápida, me pareceu óbvio que Deus não seria a única alternativa para que eu tivesse uma orientação ética: os ateus e agnósticos também têm sua ética. O passo seguinte foi imaginar que outra função Deus ocuparia em minha vida além da referência ética.

Provavelmente você afirmaria o óbvio: Deus é aquele que cuida de mim, me protege, provê para o meu bem e minha felicidade. Embora eu acredite nisso, na verdade, não me basta, pois a vida está cheia de acontecimentos que me induziriam a acreditar exatamente o contrário. Caso eu dissesse a um cético que Deus é como um pai, mas um pai todo-poderoso que cuida de mim, certamente eu seria bombardeado de perguntas. Como disse Robert De Niro: “Se Deus existe, ele tem muito o que explicar”. Além disso, estar sob o cuidado de um superprotetor não é a razão porque acredito em Deus: de fato, abro mão de ser protegido – minha solidariedade com a raça humana não me permite esperar melhor sorte do que a das crianças abandonadas, dos enfermos crônicos, dos miseráveis e vitimados pelas atrocidades dos maus. Ou Deus protege todo mundo, ou a proteção não serve como fundamento para a crença nele.

A idéia de um ser lá em cima fazendo e acontecendo aqui em baixo, como um mestre enxadrista que faz dos seres humanos peças num tabuleiro cósmico nunca me agradou. Mas mesmo assim, acredito nisso: sou daqueles que acredita que Deus está no controle do universo e da história. O que quero dizer é que não acredito em deus como se as coisas que acontecem ou deixam de acontecer fossem resultado de decisões divinas, do tipo: vou dar este emprego pra ele? vou curar esta criança? vou dar este câncer de mama para ela? vou fazer com que eles se casem?, e assim por diante, como se Deus fosse uma máquina de decisões que não para nunca e afeta tudo quanto existe em tudo quanto é lugar em relação a todo mundo.

A maneira como percebo Deus é mais ou menos como percebo o sol: ele simplesmente está lá. Acredito em Deus mais ou menos assim: Deus está, ou se preferir, Deus é. Assim como o sol irradia seu calor sem cessar, também Deus afeta tudo em todo lugar em relação a todo mundo. O sol não precisa tomar decisões: ele simplesmente está lá. Assim também em relação a Deus.

É verdade que nem todas as pessoas e nem todos os lugares são afetados pelo sol, e também que as pessoas e lugares que são afetados pelo sol experimentam o sol de maneira diferente e com conseqüências as mais variadas. Mas não por causa do sol. O sol está sempre lá e é sempre do mesmo jeito. O que muda é a realidade sobre a qual o sol incide: se a pessoa está à sombra é afetada de um jeito, se está descoberta é afetada de outro; o fruto do topo da árvore é afetado de um jeito, escondido entre as folhas, de outra; a água do lago é afetada de um jeito, empoçada, de outro; uma planta em boa terra e irrigada é afetada de um jeito, em solo ruim e seca, de outro. O sol está sempre lá e do mesmo jeito, aqui embaixo é que as coisas são diferentes.

Assim também em relação a Deus. Ele é, e sempre do mesmo jeito, as condições que lhe são dadas é que mudam: uma criança sozinha na rua e outra num ambiente familiar de afeto e amor; um homem que aproveitou bem suas oportunidades de estudo e formação profissional e outro que não teve a mesma sorte; alguém com uma doença congênita e outra pessoa com propensão atlética; a periferia do Haiti e o condomínio na Califórnia. Deus é, e sempre o mesmo, fluindo de maneira plena e equânime sobre tudo e todos, em todo tempo e lugar. As realidades sob sua influência é que são distintas. Por esta razão as conseqüências de sua influência são diversas e jamais podem ser padronizadas.

Já imagino o que você está pensando. Você acha que acabei de tirar a dimensão pessoal de Deus, e passei a tratar Deus como uma força ou uma energia. Faz sentido, mas tenho uma saída. A diferença entre Deus e uma força ou energia é que as forças e energias não afetam dimensões pessoais. Por exemplo, não é possível prescrever 30 minutos de banho de sol para adquirir capacidade de perdoar, 20 minutos de banho de chuva para se livrar do vício de mentir, ou 45 minutos de banho de luz para se encher de compaixão. Essas coisas: amor, perdão, misericórdia, justiça, solidariedade, pureza de coração, alegria e saudades são atributos pessoais, relativos a seres conscientes, auto-conscientes, com capacidades afetivas-emocionais, intelectuais e racionais, e volitivas. Por esta razão, o sol é apenas uma metáfora – incompleta, como toda metáfora – para Deus.

Deus não é uma energia ou uma força impessoal, mas o Ser–em–Si, fundamento pessoal de toda a realidade existente. Como disse São Paulo, apóstolo: em Deus somos, nos movemos e existimos.

Dallas Willard me ajudou muito a compreender isso quando afirmou que a principal maneira como somos afetados por Deus é através de “pensamentos e sentimentos que são nossos, mas não tiveram origem em nós”. Esta é minha experiência de Deus. Continuo acreditando que Deus está no controle de tudo, é livre para tomar decisões e afetar a realidade conforme sua vontade, cuida de mim e de todo mundo, faz e acontece na história e nas minhas circunstâncias, dispões de pessoas para a vida e para a morte, e o que mais você quiser ou considerar necessário atribuir como capacidade e direito a alguém que seja chamado Deus, afinal, por definição, Deus é incondicionado e ilimitado. Mas todas estas coisas atribuídas a Deus me são imponderáveis e inacessíveis. O que me afeta de fato é que crendo em Deus e conscientemente me submetendo a Ele, experimento pensamentos e sentimentos que são meus, mas não têm origem em mim. Sou levado a um estado de ser ao qual jamais conseguiria chegar sozinho. Deus é meu interlocutor amoroso. Deus é meu companheiro de viagem.

O que acontece fora de mim, se Deus faz ou deixa de fazer, se foi ele quem fez ou deixou de fazer, não me diz respeito, minha razão não alcança, e, portanto, não é objeto de minha preocupação para caminhar pela vida. Mas o que acontece dentro de mim, isso sim, é tudo quanto eu tenho e me basta. Tudo quanto tenho para orientar a minha peregrinação existencial são sentimentos e pensamentos que são meus, muitos deles que não tiveram origem em mim. Isso é questão de fé. E essa é a minha fé: estou sob Deus, suplicante e humildemente dependente de seu amor para me tornar tudo quanto estou destinado a ser, independente do que me possa acontecer.

A mim me basta saber que em pastos verdejantes às margens de águas puras e cristalinas, ou no vale da sombra da morte, nada preciso temer, pois Deus está comigo, refrigerando-me a alma, guindo-me pelos caminhos da justiça por amor do seu nome. A mim me basta saber que se Deus é por mim, ninguém pode ser contra mim, pois nada pode me separar do amor de Cristo: nem tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada, pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Não sei como seria minha vida se eu não acreditasse em Deus. Muito menos se Deus não acreditasse em mim. E nem quero saber.

Blog do Ed René Kivitz

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A oração simples



Não existe oração errada. Aliás, a oração errada é aquela qu
e não é feita. A Bíblia Sagrada ensina que se deve orar a respeito de tudo. Orar por qualquer motivo, qualquer hora, qualquer lugar, sempre que o coração não estiver em paz. Tão logo o coração experimente apreensão, preocupação, medo, angústia, enfim, seja perturbado por alguma coisa, a ação imediata de quem confia em Deus é a oração.


O apóstolo Paulo diz que não precisamos andar ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, com ação de graças, devemos apresentar nossos pedidos a Deus, tendo nas mãos a promessa de que a paz de Deus que excede todo o entendimento, guardará nossos sentimentos e pensamentos em Cristo Jesus (Filipenses 4.6,7). A expressão “coisa alguma” inclui desde uma vaga no estacionamento do shopping center até o fechamento de um negócio, o desejo de que não chova no dia da festa até a enfermidade de uma pessoa querida.

Esta experiência de oração é chamada de oração simples: orar sem censura filosófica ou teológica, orar sem se perguntar “é legítimo pedir isso a Deus?” ou “será que Deus se envolve nesse tipo de coisa?”. Simplesmente orar.

A garantia que temos quando oramos assim é a paz de Deus em nossos corações e mentes. A Bíblia não garante que Deus atenderá nossos pedidos exatamente como foram feitos: pode ser que a vaga no estacionamento não seja encontrada e que chova no dia da festa. A oração não se presta a fazer Deus trabalhar para nós, atendendo nossos caprichos e provendo o nosso conforto. Já que a causa da oração simples é a ansiedade, a resposta de Deus é a paz. O resultado da oração não é necessariamente a mudança da realidade a respeito da qual se ora, mas a mudança da pessoa que ora. A mudança da situação a respeito da qual se ora é uma possibilidade, a mudança do coração e da mente da pessoa que ora é uma realidade. Deus não prometeu dizer sim a todos os nossos pedidos, mas nos garantiu dar paz e nos conduzir à serenidade. Não prometeu nos livrar do vale da sombra da morte, mas nos garantiu que estaria lá conosco e nos conduziria em segurança através dele.

O maior fruto da oração não é o atendimento do pedido ou da súplica, mas a maturidade crescente da pessoa que ora. Na verdade, a estatura espiritual de uma pessoa pode ser medida pelo conteúdo de suas orações. Assim como sabemos se nossos filhos estão crescendo observando o que nos pedem e o que esperam de nós, podemos avaliar nosso próprio crescimento espiritual através de nossos pedidos e súplicas a Deus. As orações revelam o que realmente ocupa nossos corações, o que realmente é objeto dos nossos desejos, o que nos amedronta, nos desestabiliza e nos rouba a paz.

O apóstolo Paulo diz que quando era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Mas quando se tornou homem, deixou para trás as coisas de menino (1Coríntios 13.11). Não existe oração certa e errada. Mas existe oração de menino e oração de homem. Oração de menina e oração de mulher. A diferença está no coração: coração de menino e de menina, ora como menino e menina. A nossa certeza é que Deus também gosta de crianças.

Via Blog do Ed René Kivitz